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MONSTROS E MONSTROS

  Consegue me contar o que te faz tremer? Sabe o que teme, quando a escurid?o cai?

  1

  Já haviam percorrido um grande caminho quando pararam sobre uma eleva??o, de onde podiam sentir com mais clareza a comitiva e o que parecia se acercar dela num campo dentro de um vale largo, um pouco mais à frente. Uivo sentiu um calor percorrer sua espinha. O lugar onde estava a comitiva parecia ser um lugar meio fúnebre, o campo cercado por uma mata rala, de árvores retorcidas e esgar?adas.

  Uivo examinou o ar havia e o sentido de urgência, aquele claro sentido de perigo. Era claro que a comitiva estava com sérios problemas.

  De esguelha observou LuaEscura que parecia ter se tornado mais escura, e viu que ela sentia o cheiro de perigo à frente. Ficou preocupado ao ver que ela parecia cada vez mais feliz quanto mais se aproximavam.

  Uivo suspirou, observando seus outros novos e estranhos companheiros. Se n?o fosse a certeza do perigo que rondava a comitiva, tinha certeza de que riria. Para for a da capa de RoupaSuja apenas a cara de Bra?oDePedra, que permanecia em silêncio. Uivo estranhou, sentindo no rosto dele que n?o estava nem aí, que carona era carona, ainda mais quando fazia o amigo trabalhar mais. Uivo balan?ou a cabe?a, desconfiando que RoupaSuja sabia da malandragem do outro. Foi ent?o que viu que os cabelos de Bra?oDePedra e o rosto estavam estranhamente marcos por lambadas de galhos e folhas.

  O momento era sério, mas n?o conseguiu n?o riu por dentro sobre os dois.

  Novamente olhou para os três companheiros, e sorriu ante o destino. Ainda n?o sabia o que poderia estar se preparando para ir contra a comitiva, mas agradecia o encontro com seres assim t?o poderosos, que aceitaram encontrar a comitiva.

  Esticou sua aten??o, tentando identificar o que estava acontecendo ao longe. Ent?o sua aten??o parou sobre Bra?oDePedra, que parecia sondar a distancia.

  - Os que est?o se aproximando da comitiva s?o realmente perigosos – o ouviu cismar. - N?o sei, mas parece um poder antigo e feroz, enraivecido. Realmente, s?o estranhos. Eles têm muito poder – o ouviram sussurrar, atento no caminho à frente. – Já encontrou algo assim, em suas caminhadas, LuaEscura?

  - Já... Esses s?o fantasmas, fantasmas de anjos enlouquecidos, de vigilantes enraivecidos. Mas eles n?o est?o sozinhos. Sinto no meio deles também a presen?a de dem?nios.

  - O negócio por lá vai ficar mais feio. Vejo seres coloridos e mantos e sombras se acercando deles. A comitiva ainda n?o percebeu como est?o sendo envolvidos. Eles foram enganados, acreditando que é um poder pequeno. Eles caíram em uma enorme armadilha – sofreu Uivo. - Você, RoupaSuja, já sentiu algo assim? – perguntou para o anjo, que se mostrava silencioso e um pouco tenso.

  - Esses fantasmas s?o muito, muito perigosos – sibilou RoupaSuja. - S?o como LuaEscura contou. Teremos que ter muito cuidado, se for o que penso que podem ser - alertou. - Vamos depressa, porque as coisas parecem que v?o se precipitar. E eles v?o precisar de toda a ajuda que puderem - falou se erguendo no ar. – E tem que ser bem rápido.

  Tomado de urgência Uivo se poderou como pumacaya e um bom tanto de dem?nio e avan?ou. Ele e LuaEscura iam bem mais depressa que os outros dois, mas n?o deu importancia a isso.

  Assim decidido se exigiu ainda mais.

  Seu pensamento estava como que fixo, imaginando os riscos que Allenda corria.

  Já bem próximo sua alma gemeu, ao se dar conta de uma for?a estranha, tal como nunca havia sentido antes. Era um poder muito grande que estava ali, como se fosse uma barreira medonha, fria, úmida, cheia de solid?o e maldade.

  - Imagine uma esfera que o envolve. Imagine-a azul da cor do céu ou violeta. Nunca deixe de senti-la – gritou LuaEscura enquanto avan?avam para a comitiva. – Ela irá proteger seu corpo, e principalmente a sua mente.

  - Obrigado, LuaEscura – agradeceu.

  Ent?o fez crescer uma aura escura que o envolvia, seguindo suas formas. Mas, de alguma forma, come?ou a sentir um estranho mal-estar. Ent?o, enquanto corriam, foi tornando a aura escura cada vez mais clara, até que atingiu um cinza um pouco azulado que o deixou bem confortável.

  - Isso vai servir muito bem, Uivo – congratulou LuaEscura. – N?o é ideal, mas vai servir por enquanto. Apenas se mantenha firme nela, deixe-a ser seu escudo. Logo ela irá se tornar t?o natural que você nem mesmo a perceberá – orientou.

  Mais confiante Uivo sentiu o momento em que a barreira de seres estranhos surgiu à frente, na grande charneca no meio da floresta dentro do vale.

  Os dois desceram na entrada da clareira e continuaram a avan?ar em dire??o a ela.

  Uivo suspirou quando viu a comitiva, pequenina ao longe, dentro do espa?o vazio de árvores. Eles estavam cercados, e parecia que haviam levado uma boa surra.

  Uivo e LuaEscura se preparavam para atacar essa barreira quando a sentiram se abrir.

  Sem questionar a ultrapassaram.

  II

  A esperan?a parecia um item pesado para manter ao lado. Os fantasmas n?o iriam deixá-los sair dali com vida – Allenda viu. Devagar se virou para a comitiva. Alguns estavam bem machucados. Suspirou. Ela estava um pouco ao lado, isolada pelo último ataque, que a ferira dolorosamente.

  Suspirou mais pesadamente.

  Em silêncio embalou com carinho o rosto visualizado de Uivo.

  - Tendavar, meu querido Uivo... – se despediu do rosto que tanta falta lhe fazia, n?o vendo mais qualquer tra?o de esperan?a. - Que sua vida seja cheia de realiza??es – suspirou para as nuvens estranhas que via sobre as copas da floresta, enquanto se preparava para recha?ar mais um ataque.

  - Poderem-se e preparem-se para uma morte gloriosa – gritou Adanu aumentando as chamas.

  Em resposta, viu as energias de todos se elevando ao máximo que podiam sustentar em uma batalha. Bolhas de energia se mostraram nas m?os de Canvas e Túnis que estavam inflamados, enquanto Trília se incendiava a um ponto quase extremo. Ybynété se elevava em toda sua altura, os pelos sedosos e coloridos se batendo no vento na campina. Adanu era como uma tocha enfraquecida, mas ainda assim perigosa.

  Allenda suspirou, se inflamando, se sentindo um pouco mais reconfortada em sua dor ao sentir a energia se irradiando.

  Observou cada um dos Danatuás mais uma vez, como uma despedida.

  Ent?o se voltou para as formas sugeridas dos fantasmas, o corpo um pouco curvado para a frente, em claro desafio.

  Mas, antes que atacassem, os mortos se viraram para o norte, parecendo atentos e curiosos.

  Aproveitando o momento todos correram para seus feridos. Itanauara cuidava da ferida de Adanu. Dana-dana pegou Allenda e a trouxe para o círculo e a p?s sob os cuidados de Ybynété, que esfregou vigorosamente as m?os uma na outra e as postou sobre suas feridas, enquanto os outros se mantinham atentos aos mortos, se fechando em torno dos vivos.

  - Algo está vindo do Norte, e parece que os mortos est?o deixando passar o que quer que vem.

  - Adanu está certo! – concordou Itanauara sentindo o solo e as raízes. – S?o dois seres...

  - Quem s?o? – perguntou Allenda arfando de dor.

  - Parece que s?o dem?nios estranhos, que n?o entendo, e nem mesmo os mortos entendem.

  Allenda se arrepiou. Se lutavam com os mortos, contra o que mais teriam que lutar?

  - Devem ser eles que controlam esses mortos – vociferou.

  - N?o, n?o acho que seja isso – discordou Trília – Os mortos est?o mais confusos que nós.

  - Será??? - Allenda sorriu esperan?osa e preocupada, os olhos se voltando para o norte.

  De repente dois seres saíram em velocidade da floresta, e os olhos de todos se voltaram para lá. Allenda sentiu um baque no cora??o ao reconhecer que um deles era Uivo se aproximando velozmente. Sua voz ficou travada na garganta, vendo a figura t?o amada se aproximar depressa. Ent?o viu a figura ao lado, grande, esguia, graciosa, envolta em uma neblina acinzentada. Na hora viu que era LuaEscura, a juguena que um dia quase a matara e da qual Uivo se tornara amigo.

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  - Uivo? - Ybynété se assustou ao vê-lo parar de chofre à frente da comitiva, rapidamente se despoderando. - Mas, ... Você n?o deveria ter vindo... – zangou, passando os olhos para a terrível criatura que se postara ao lado da comitiva.

  - Essa é LuaEscura, e ela é a minha amiga juguena – apresentou apressado, parando à frente de Allenda. Com um longo suspiro segurou seus ombros e encostou sua cabe?a na dela, satisfeito por estar ali.

  Todos, tomados de receio, cumprimentaram a juguena. LuaEscura apenas olhou de um em um rapidamente, os olhos se fixando na barreira fria que os envolvia.

  - N?o devia ter vindo, Uivo... – Allenda gemeu, tomando sua m?o. – N?o há como escapar daqui.

  - N?o vim sozinho, Allenda. Trouxe ajuda.

  Allenda olhou para a juguena, que estava de costas para todos, observando a linha de fantasmas que haviam fechado a passagem por onde permitiram que os dois entrassem. Ent?o se aproximaram ambos dela e formaram ao seu lado.

  A juguena olhou para baixo, e sua neblina pareceu se enovelar com mais tranquilidade. Allenda, em silêncio, agradeceu o sinal de paz.

  Elas n?o falaram nada, mas apenas ficaram ali, por algum tempo, mantendo os lados sob aten??o.

  - Isto aqui é uma armadilha - falou Dana-dana.

  - Deu para perceber. Como vocês est?o? – Uivo perguntou após ter passado os olhos pelos feridos.

  - E onde está Immecole??? E Tenebe? – perguntou Uivo, tomado de apreens?o.

  - Immecole está morto...

  - Morto? - assustou-se, voltando-se para onde viera a voz. Adanu estava sentado, sua chama enfraquecida.

  Seu corpo parecia muito judiado.

  - Sim, morreu em batalha aqui mesmo – confirmou Adanu se levantando com a ajuda de Ybynété.

  Uivo examinou Adanu rapidamente com mais aten??o, e viu o quanto ele estava debilitado. Em respeito fez como se n?o tivesse reparado nisso.

  - E Tenebe?

  - Desaparecido! N?o conseguimos passagem para procurá-lo. Ele foi lan?ado para aqueles lados com muita violência – Allenda apontou.

  Uivo olhou para a beirada escura da floresta, vendo que algo mudava no ar. N?o sabia o que era, mas sentia que havia um poder estranho ali, e que esse poder estava contra eles.

  - Eu senti perigo e vim o mais rápido que pude e... Eles s?o as sombras dos mortos, é isso o que s?o? – perguntou se poderando em pumacaya sombrio.

  – Essa floresta foi tomada pelos mortos, e os mortos n?o est?o satisfeitos... Você veio e também entrou na armadilha deles – falou DenteDeAlho.

  - S?o as almas enlouquecidas de anjos e dem?nios – esclareceu LuaEscura.

  De repente, sem qualquer aviso, a atmosfera se tornou pesada e fria.

  Uivo se fixou num ponto a tempo de ver alguns seres tomando forma à frente do grupo. Eles eram meio fantasmagóricos, irradiando uma suave aura verde esbranqui?ada. Tinham o formato humano, mas pareciam ser muito mais que isso. Um dos seres flutuou à frente dos outros e se aproximou da comitiva.

  - Você, eu vejo que é um juguena – o ser esverdeado reconheceu observando a face indiferente de LuaEscura. – E, quanto a você – falou se dirigindo para Uivo, - quem é você e o que quer, para escolher morrer aqui com os outros? – perguntou o fantasma estranhando ver um humano, numa forma de puma, envolto por uma leve penumbra de dem?nio.

  - Quem é você e o que deseja para atacar aqueles que apenas pedem passagem? – Uivo devolveu.

  - Eles s?o mortos, fantasmas que se alimentam dos que destroem... – explicou Dana-dana. – Eles n?o se importam com o que destroem.

  - N?o importa o que vocês sejam, ou julgam ser. Deixe-os ir... – Uivo ordenou olhando diretamente para o morto.

  - Você acha que possui poder para nos dar ordem, para nos desafiar? – riu o morto, tornando-se mais aparente.

  Num movimento súbito Uivo se poderou totalmente em pumacaya, mantendo o mesmo nível sombrio, e atacou. Seu golpe passou pelo fantasma e atingiu a árvore que estava logo atrás. O barulho de madeira destro?ada ecoou para dentro da floresta.

  Sob os olhares assustados de todos o fantasma se voltou para Uivo, ajoelhado de costas para ele, e num átimo atingiu seus ombros e nuca com um terrível golpe que soou como uma avalanche ao longe.

  Uivo ajoelhou-se com a for?a do golpe do fantasma, sentindo como que laminas perfurando seu corpo, infringindo uma dor quase insuportável. Quase sem pensar suas garras se envolveram em fuligem. Num giro violento e rápido Uivo livrou-se do que o torturava e, voltando-se para trás, curvou a espinha com as garras voltadas para cima. Com prazer sentiu resistência nas garras ao atingir o fantasma de cima abaixo. O fantasma, surpreso, acusou o golpe e recou apressado.

  - Ora, ora... Um puma com poder de um dem?nio. Intrigante – reconheceu tomando-se de mais energia.

  Seu corpo se tornou mais luminoso e ele sorriu.

  Uivo se levantou, controlando toda a dor que o dominava.

  > Você n?o quer ser dem?nio, n?o é mesmo? Por isso, n?o é suficiente para se dirigir a nós.

  - Vocês n?o s?o merecedores do amor e da expectativa de Tup? para com vocês.

  - Tup?, crian?a, é um ser amaldi?oado que faz doer tudo o que um dia criou – sibilou com prazer. – Vocês logo v?o descobrir isso...

  Uivo pendeu a cabe?a um pouco, e viu sair da floresta um fantasma imenso arrastando um homem como se fosse um trapo, que reconheceu ser Tenebe.

  - Devolvam-no a nós e poder?o seguir seus caminhos – falou Adanu, encarando o que estava mais próximo.

  - Sim, claro! Nós o libertaremos.

  Como se respondesse a um sinal combinado o gigante levantou o humano desfalecido e, com um volteio rápido, o lan?ou contra a comitiva.

  Gritos enfurecidos e perplexos subiram da comitiva, enquanto Ybynété, num salto gigantesco, o tomou no ar antes que tocasse o ch?o, recuperando Tenebe com carinho. O ch?o tremeu quando ele impactou o solo. Rapidamente se virou e o trouxe com cuidado para junto dos outros.

  De repente o frio aumentou e a energia subiu violentamente. N?o houve tempo para se prepararem para o ataque violento que irrompeu.

  Tudo pareceu cair, frio e insensível, sufocante, abrutalhado. Uivo sentiu os golpes, bem como cada um da comitiva.

  Dana-dana atirou-se com violência contra um que se materializara demais e o empurrou com brutalidade contra o tronco grosso de um angico. O fantasma gritou de dor e, tomado de fúria, atingiu o cora??o de Dana-dana com um poder monstruoso, atravessando-o furiosamente. Dana-dana parou, os olhos perdidos num friso do céu. Ao rosto trouxe um sorriso enquanto ia desabando lentamente, até ficar de joelhos. Ent?o sua cabe?a pendeu e seu corpo atingiu o solo à frente.

  A comitiva se arrepiou de dor, vendo o amigo tombar.

  - Um a um, um a um ir?o morrer aqui... – riu o fantasma.

  Allenda se virou no exato momento de ver LuaEscura se enovelar em nuvens escuras, esguias. Farpas explodiram de seus lados, atingindo dois dos mortos, que num giro escaparam das farpas, um sorriso maldoso nas caras esverdeadas.

  Ficou maravilhada quando um dos mortos caiu sobre a juguena. Ela, com um movimento majestoso apenas se virou e, colhendo o fantasma, o atirou para longe.

  Uma esfera de verde de energia que parecia crepitar o ar enquanto velozmente passava ao seu lado atingiu um fantasma que tentara se aproximar dela, lan?ando-o para trás.

  Allenda se virou e agradeceu Trília e Túnis ao mesmo tempo que disparava duas setas de fogo, que fez recuar um que tentava atingir Canvas.

  A comitiva arfou e se reagrupou novamente. Eles sabiam o que acontecia. Os fantasmas atacavam com fúria alucinada, até conseguirem matar um deles, como ondas raivosas que cresciam contra uma praia. Ent?o se afastavam, como se para examinar toda sua glória e dar tempo para o medo aumentar no grupo. Eles se refestelavam nisso, até que tudo se desvanecesse. Ent?o eles atacariam novamente, e novamente, até n?o sobrar mais ninguém.

  Subitamente os fantasmas apenas fizeram uma linha de frente para eles, observando-os com desprezo.

  - Vocês n?o s?o mortos deste mundo, nem mesmo desta floresta – observou Adanu tomado de ira, chamando aten??o de um fantasma. – Quem s?o vocês?

  - Por que a pessoa pensa assim? – perguntou ele se aproximando.

  - S?o poderosos demais... Nada os pode confrontar. Se vivessem por aqui há muito tempo, todo esse mundo saberia de vocês.

  - O que a pessoa pensa que somos?

  - Agora, s?o apenas loucos – falou LuaEscura, sua voz parecendo alterar a frequência do próprio ar. – Sei que muitos de vocês já foram anjos, enquanto outros s?o e foram dem?nios...

  Os outros da comitiva olharam incrédulos para LuaEscura. Era impossível que alguns daqueles seres aloucados fossem anjos, se diziam nos olhos. Era fácil perceber que isso era uma loucura.

  - Você está enganada, dem?nio que se acredita com réstia de luz. Nunca fomos anjos, como nunca fomos dem?nios. Sempre fomos apenas um pensamento, alguém que foi e n?o é mais, alguém que pode destruir, e até mesmo tornar estéril o mundo que vocês teimam em criar e brincar de recriar.

  - Vocês já foram anjos e dem?nios, isso é certo! - voltou, teimosa.

  - Se fomos, o que o ser acha que somos agora? Se arrisque, ser...

  - Apenas seres sem lugar, que se julgam no direito de destruir o que acham que n?o podem ser – cuspiu Uivo.

  - E o que n?o podemos ser? – perguntou amea?ador aproximando-se perigosamente da face de Uivo.

  - Vida...

  O fantasma o examinou com cuidado, uma indecis?o perigosa bamboleando entre a destrui??o e o desdém. Uivo sustentou o exame, ignorando a dor, ignorando a amea?a.

  Por fim o fantasma amenizou o olhar e se afastou, pensativo.

  - Algumas vezes uma verdade salva, como a mentira também, ou a ilus?o. N?o devem ter esperan?as. Vocês invadiram nossas terras, porque se antes n?o eram, agora é aqui que estamos. Vocês, pessoas, podem partir, se quiserem. Os nefelins ficam aqui, pois aqui é o túmulo dos que permanecem.

  Adanu, Ybynété, DenteDeAlho, Ybytu, Canvas e Itanauara se entreolharam.

  Adanu p?s os olhos sobre Allenda e sorriu.

  - N?o deixamos ninguém para trás – falou Adanu empertigando-se.

  - Ent?o todos morrer?o aqui, e de nada adiantará terem ficado, porque morrer é solitário; é um sempre ser deixado para trás...

  - N?o, n?o é aqui que morreremos – falou Uivo se preparando para mais um embate.

  - E como o nefelin dem?nio acha que...

  N?o teve tempo para terminar. O puma, numa concuss?o seca, tomou-se de sombras densas. Havia ódio e prazer na dor, havia loucura e frieza amoral no ar que o envolvia.

  Todos viram o perigo exposto, e rapidamente trataram de se afastar, exceto LuaEscura, que parecia tomada de felicidade ao se posicionar ao seu lado.

  Os fantasmas sorriram e se concentraram nos dois dem?nios.

  Uivo atacou o fantasma mais perto, que gritou de desespero ao sentir um espor?o penetrando em seu ser.

  Uivo for?ou mais a espada de sombra em seu corpo verde, que pulsava errático.

  Ele gritou ainda mais e se debateu ao sentir a espada penetrando mais fundo e girando em seu corpo aprisionado, sob os olhos desnorteados dos outros.

  Dois se preparavam para se abater sobre Uivo quando LuaEscura os atingiu com uma terrível ferocidade. Ela girava e se desfazia, as farpas zunindo e atravessando as formas. Um grito medonho ecoou no ar quando várias farpas de LuaEscura atingiram um fantasma. Ele tremia involuntariamente enquanto a juguena parecia absorta em destruí-lo.

  Foi ent?o que Allenda notou algo que estava em um canto de sua aten??o: tanto ela quanto Uivo estavam dando pulsos de luz nas espadas de sombras negras com que atacavam. Era isso que desnorteava e feria os mortos.

  Uivo girou e bloqueou o avan?o de dois fantasmas contra a juguena. Mas um deles passou e atingiu a juguena perto do ombro, o que a obrigou a deixar o fantasma se afastar, logo sendo recolhido pelos seus.

  - Vamos!! – gritou Adanu vendo uma brecha se abrir. - Essa n?o é uma guerra comum; é uma luta entre anjos loucos e dem?nios. Vamos entrar na floresta e envolvê-los, e atacar aqueles que se tornarem mais concretos... Vamos – apressou, tomado de urgência.

  Mas, antes que pudessem atingir a floresta, o grupo foi bloqueado. Dois fantasmas se preparavam para atacá-los quando algo os atingiu. Eles gemeram e se afastaram confusos, tentando entender de onde vinha o ataque.

  Allenda olhou para onde estavam Uivo e LuaEscura, que continuavam a batalhar furiosamente com os fantasmas. Ent?o, percebendo um movimento estranho pela esquerda, se virou no exato momento de ver um ellos passar correndo por eles, acompanhado por uma forma estranha que lembrava uma penugem branca como uma pluma de paina. Num movimento rápido o ser de pluma desceu na frente dos dois mortos mais próximos da comitiva, e lhes deu combate.

  O ellos passou e olhou com admira??o para Allenda. Ele a viu olhar para trás, procurando, até se fixar em Uivo.

  Bra?oDePedra sorriu, pois sentira em Uivo a necessidade que mostrava de estar ali, de proteger aquela incrível mulher. E ela sabia disso, via com clareza, em seus movimentos e em sua alma.

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